Mensagem escrita pelo Professor Jurkowski Henryk para
o Dia Mundial da Marioneta 21 de Março de 2011
Aqui estou eu na cidade de Omsk, na Sibéria Ocidental. Entro no Museu Etnográfico. De repente, meus
olhos são atraídos para uma vitrina onde se encontram dezenas de figuras - são ídolos das Tribos
Ugrófinas: ‘Os Menses’ e ‘Os Chantes’, que parecem saudar cada visitante.
Um instinto repentino obriga-me a saudá-los também. São magníficos. Representam um traço
permanente da espiritualidade de gerações humanas primitivas. É que elas, e seu mundo imaginário, são
a fonte das primeiras manifestações e imagens teatrais, tanto sagradas como profanas.
As colecções de arte estão repletas de ídolos e de figuras sagradas, que gradualmente vão
desaparecendo da nossa memória. No entanto, nos museus, há também marionetas, que trazem a marca
das mãos de seus criadores e manipuladores. Dito de outra forma, aquelas mãos têm vestígios da
habilidade, imaginação e espiritualidade humana. Colecções de marionetas existem em todos os
continentes e em quase todos os países. São um orgulho para os coleccionadores. São lugares de
investigação, que mantêm viva a memória, transportando uma importante prova da diversidade da nossa
disciplina.
A arte, como muitas outras actividades humanas, está sujeita a duas tendências: a coerência e a
diferenciação. Hoje vemos que as duas tendências coexistem a nível de actividades culturais. Podemos
ver que, obviamente, a facilidade para viajar pelo ar e pela internet, aumenta o número de contactos em
vários congressos e festivais, o que leva a uma maior uniformidade. Na verdade, dentro de pouco tempo,
viveremos na cidade global de McLuhan.
Isso não quer dizer que percamos completamente o sentido da diferenciação cultural, pois vejamos que
agora um grande número de companhias de teatro utiliza meios de expressão semelhantes. As
marionetas japonesas de Ningyo Joruri, ou do indonésio Wayang foram assimilados pela Europa e pela
América. Assim como companhias asiáticas ou africanas usam, hoje em dia, técnicas europeias.
Os meus amigos dizem-me que se uma jovem artista japonesa pode ser uma virtuosa interpretando obras
de Chopin, um americano pode muito bem tornar-se num Mestre Joruri ou num dalang tocando um
wayang purva. Poderia estar de acordo com eles, desde que esse marionetista assimilasse, não somente
a técnica bunraku, mas toda a cultura que está associada.
Muitos artistas estão satisfeitos com a beleza exterior da marioneta que, contudo, dá ao público a
oportunidade de descobrir diferentes formas de arte. Desta forma, a marioneta invade novos territórios.
Inclusive no seio do actor de teatro, tornou-se numa fonte de metáforas variadas.
Esta grande expansão da marioneta antiga figurativa está ligada a um movimento inversamente
proporcional ao espaço ocupado anteriormente. Isto é devido à grande invasão do objecto e, em maior
escala, a tudo o que toca este assunto. Porque todo o objecto, toda a matéria, submetida a animação, nos
transmite e exige o seu direito à vida teatral. Assim, a partir de agora, o objecto substitui a marioneta
figurativa, abrindo aos artistas um caminhos para uma nova linguagem poética, e para uma criação que
envolve imagens ricas e dinâmicas.
As imagens e metáforas do passado, foram as características de cada estilo de marionetas, diferentes
umas das outras, que se tornaram, hoje em dia, na fonte de expressão de cada marionetista. Portanto, há
uma linguagem única nova poética que não depende da tradição géneros, mas sim do talento de cada
artista, e da sua criatividade individual. A padronização dos meios de expressão gerou a sua
diferenciação. A cidade McLuhan mundial tornou-se nos seus antípodas. Diferentes meios de expressão
tornaram se instrumentos da palavra individual que prefere sempre soluções originais. Claramente, a
tradição figurativa das marionetas não desapareceu do nosso horizonte. E desejamos que seja sempre
como um ponto de referência de grande valor.
Jurkowski Henryk - 2011
Tradução de Rui Sousa, associado da UNIMA Portugal nº104
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