Imagine-se um dia sem arte nem cultura. Imagine-se que durante um dia inteiro o país fica sem teatro, sem cinema, sem livros, sem música, sem rádio, sem concertos, sem televisão. Imagine-se um dia um país emudecido para não gastar palavras, parado para não gastar energia, embrutecido para não gastar ideias e
emoções. Que género de vida defendem os que acham que acultura é “desnecessária”?
Hoje, dia 24 de Novembro de 2010, dezenas de companhias e estruturas das artes do espectáculo páram de trabalhar.
Trabalhadores independentes que não fazem parte de estruturas, juntam-se também neste dia para participar em acções de protesto contra estas medidas violentas impostas.
Estamos a assistir à degradação do estado social onde direitos consagrados estão a ser reduzidos e retirados à maioria dos cidadãos. Ouvimos frequentemente que se trata de uma crise geral e de que é o modelo social europeu que está a ser posto em causa, como explicação de um colapso de um sistema de valores, de um vazio ideológico. Mas este vazio ideológico apenas serve para desresponsabilizar este ataque ao estado social.
Apertam-nos o pescoço.
Tiram-nos o ar.Falam-nos de austeridade, de contenção, apelam ao nosso sentido de sacrifício, ao culto da Tristeza Geral. Insistem na ideia de que “é preciso sofrer para atingir uma recompensa futura” , mesmo que não se saiba que recompensa é essa e para quando.
Sabemos que o Orçamento de Estado para 2011 tenta fazer passar uma imagem de um plano consistente de salvação nacional. Que perante uma situação de “emergência” que devia meter medo a todos, o Estado ainda consegue manter a calma e dividir o esforço por todos os sectores, como um pai severo que corta no
mealheiro dos seus filhos, ou melhor, de quase todos os seus filhos.
O sector da cultura não escapa a este programa de austeridade, mas a situação é ainda mais gritante: a supressão de 1/4 do orçamento do Ministério da Cultura afecto a todas as áreas de criação e produção artísticas. Os artistas e os demais profissionais das artes do espectáculo e do audiovisual, já por si fragilizados pela ausência de um sistema que os proteja, são igualmente chamados a resignar-se à imposição
deste estado de Tristeza Geral. Como se enquanto trabalhadores (e cidadãos) não fizessem parte de uma mesma luta que hoje se manifesta na adesão sem precedentes à Greve Geral.
A criação e fruição artísticas estão no centro da reflexão, da crítica e do gesto de cidadania. Temos consciência do gesto que exercemos aqui hoje, contra a estado da Tristeza Geral.
A plataforma dos intermitentes